Se alguma coisa mudou de repente ela não percebeu, tudo permanecia igual, tão igual mas no fundo tão diferente. Igual ao que não queria, tão longe do que desejava chamar seu, tão longe de daquilo que amava, sozinha sem razão.
Já se tinham passado pelo menos dois meses, cansada e completamente saturada dos seus próprios pensamentos não conseguia assumir o controlo. Todas as coisas que fazia eram contra si, tudo era escuro, irremediável, problemas e feridas sem meio de acabarem. Ela já não conseguia sentir o vento a bater na cara, a chuva a molhar cada centímetro do seu corpo, não tinha um abrigo, não tinha um casaco, ela não tinha a sua vida, naquele momento apercebeu-se de que não tinha nada. Sentou-se num banco de onde conseguia avistar quase toda a cidade que conhecia desde pequena, ligou a música bem alto para não pensar, tentou desligar-se de todo aquele sofrimento mas as lágrimas encheram os seu olhos, ela limpou-as como pode mas mesmo sem ela querer, insistiram e começaram a percorrer o seu rosto.
Agora não era mais uma criança e o que o mundo lhe oferecia eram só coisas más. Julgava ter encontrado um beco sem saída e já nem ela sabia distinguir se temia o fim ou se o desejava. Naquele banco de jardim reviveu todos os momentos da sua vida, procurou o porquê e não o encontrou, a música continuava, as luzes da cidade permaneciam acesas, e ela chorava.
Não podia ser verdade, não devia nem tão pouco era justo.
Sem dar pelas horas passar, absorvida naquele momento não reparou que era observada. A música parou naquele instante, sem razão aparente, alguém se sentou e uma paz invadiu a sua alma e todo o seu ser. Sentiu que podia confiar e que talvez a sua vida não estivesse num beco, apenas fosse um grande cruzamento.
Ela precisava de um abraço, um ombro onde pudesse pousar a sua cabeça e teve-o sem precisar pedir. Não conhecia aquele rosto mas sabia que qualquer coisa finalmente batia certo, naquele momento, a sua fragilidade eminente levou-a a dizer entre soluços: " Obrigado".
O silêncio fez-se sentir. Mas a resposta foi tudo o que ela queria ouvir: "Eu não sei porque estou aqui, eu vi-te e sem uma palavra soube de ti, quis ficar e não vou deixar que percas desta vez. Eu estou aqui, não tenho horas e já não encontro nada mais importante.". Ele limpou-lhe as lágrimas e os olhos dela, ainda inchados deram-lhe a conhecer uma nova realidade. Sentiu uma coisa tão nova e não conseguia encontrar nada capaz de exprimir aquilo. Acreditava que o destino lhe dera finalmente uma das peças-chave da sua vida e como ele tinha prometido, esperaram juntos pela manhã.
O resto do mundo parecia afastado, todos continuavam presos à rotina do dia-a-dia, a serem consumidos diariamente pelo frenesim da vida prestes a alcançar o ponto de ruptura.
Eles não! Agora tinham-se um ao outro, alheios ás magoas de ontem tinham conseguido abrir os olhos, quebrar as regras e resolver que o futuro seria muito melhor que o passado.
Perceberam que toda a gente devia saber que a resposta vem sempre na altura certa. ♥