Não levaram muito tempo a expor os seus trunfos, como num jogo de cartas, mas depressa descobriram que nenhum tinha a jogada perfeita…
O passado, ainda que invocado, encorajado, convidado não poderia dar-lhes mais do que já tinha dado. Nesse momento olhavam um para o outro como se tudo representasse uma oportunidade perdida e as suas mentes juntas em sintonia como o som e o silêncio, decidiram que o futuro começaria agora.
Á primeira vista e ao fim de contas, pouco mais havia que uma dúzia de pequenas coisas que tinham vivido juntos, coisas essas que eram apenas sementes de qualquer coisa, uma coisa perdida no tempo e que se afiguravam demasiado interessantes para serem desperdiçadas.
Restava-lhes agora enfrentar uma segunda ou terceira oportunidade de inventar, jogar ao faz de conta, salvar a situação mergulhando num esforço continuo de especulações. Tiveram desde sempre ânsia por algo explosivo, como aquilo que consideravam mais profundo, inexplicável, que mudasse as suas vidas, algo prestes a acontecer.
Havia tanto por dizer, tanto por descobrir, …
Talvez destruísse a sua vida, talvez o aniquilasse, por outro lado, talvez se limitasse a abanar o mundo e deixa-lo as mãos do destino aberto ás consequencias, quaisquer que elas fossem. Conseguia ver a consciencia a impor-se, como se a leveza cedesse lugar á gravidade, ali ele teve certeza que ela "sabia"!
- Tens medo?
- já não sei nada, só te peço que não me abandones agora.
-Tens medo?
-Parece-te que sou lunático é?
-Não, eu acredito em ti.
-Vais ficar a assistir comigo?
Hesitou e pela terceira vez perguntou…
-Tens medo?
-Não sei, se ficares a assistir comigo podes ajudar-me neste caminho e dizer-me o que te parece. Ficas?
-SIM, ficarei a assistir contigo!
Estavam, agora, os dois, juntos á deriva. O facto de ela saber deixava-o confortavel.
Mas foi a invulgar sorte de ter tropeçado no mesmo outra vez que o tornou indiferente a quaisquer outras questões, o futuro deixava antever o que isto ajudou a preservar mas se alguém “soubesse”… talvez ele se deparasse com o riso de um mundo insensível e cruel. Mas, é a vida!
-Sou eu a única pessoa que sabe?
- A única em todo o mundo.
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